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Infâncias e adolescências na lógica do phatos....

  • Foto do escritor: Tânia Ferreira
    Tânia Ferreira
  • 14 de ago. de 2018
  • 4 min de leitura

INFÂNCIAS E ADOLESCÊNCIAS NA LÓGICA DO PHATOS: DESVARIOS E RISCOS                                                                                               Tânia Ferreira - Agradeço o convite de Arthur da Saúde Mental e de vocês, para esta Roda de Conversa.  Recebi com muita alegria, pois reitero minha aposta nos Fóruns como lugar privilegiado de operar certa torção na lógica do “para todos”, pois pode se deter no caso a caso, contribuir para delinear senão políticas, direções para os Serviços e equipes qto ao projeto terapêutico do caso, mas também organizar as ações sem sobreposições desnecessárias, mantendo a lógica do território.- Fui, pois convidada a trazer algumas contribuições para esta Roda de conversa sobre a patologização da infância e da adolescência. Coloco no plural, pois existem várias infâncias adolescências no Brasil, nesta Regional. - Qdo fui pensar no que trazer para animar o debate, pensei em abordar o tema como ecoou em mim:  A patologização no sentido do que Viganó chamou “imperante nominalismo” – ou seja as nominações classificatórias das condutas, ações, e o que é pior, das manifestações subjetivas de crianças e adolescentes. O nome já diz: patologiza as ações....e a patologização no sentido do que podemos compreender como o que adoece crianças e adolescentes hoje. Ou seja: abordando pelos dois viezes: o nosso, de todos os agentes de cuidado e o das crianças e adolescentes que chegam aos agentes de cuidado.-  Antes de tratar a questão da patologização, trago um dizer de  Freud em uma de suas cartas a Fliess, : “Sempre se é filho da época em que se vive mesmo naquilo que se considera ter de mais próprio” (Masson, J., 1986, p. 278). Perguntamo-nos: quais e como são as infâncias, “filhas” de nossa época? E as crianças?   De que sofrem? E os adolescentes? Quem são? Quais são suas perguntas, seus sintomas, suas perspectivas? E o que têm de mais próprio? Em que nos interrogam?ARROYO (2008, p. 119-120) nos diz que “a infância interroga a pedagogia”. Para ele, as ciências do humano também são interrogadas pelo protagonismo social da infância. Ele nos diz ainda que a pedagogia se repensará na medida em que estiver atenta “a como a infância experimenta seu viver”.  Para ele, “são tempos em que as experiências da infância (ou diríamos - das infâncias) são tão tensas e precarizadas que as verdades da pedagogia sobre si própria e sobre a infância, entram em choque”. Estas considerações de Miguel Arroyo podem ser estendidas à saúde mental e aos diferentes dispositivos de atenção. Eles são interrogados pelas infâncias e pelas adolescências. AS infâncias e as adolescências, nas suas tensões, precariedades, mas também vigor e singularidade, fazem vacilar, muitas vezes, o saber  constituído. Não é justamente qdo interrogam que surge o império do nominalismo? Não é aí que se inicia o largo uso dos manuais classificatórios que homogeinizam nossos discursos?  - A nomeação de uma manifestação da criança ou do adolescente seja através de um diagnóstico ou através do que se diz dela, sobre ela, a ela, pode ser tão pregnante que funciona como um substituto do nome-próprio e passa a justificar tudo: seus atos, gestos, comportamentos, sem que a ela nada possa ser atribuído, consistindo seu ser de objeto. Isso funciona como uma verdadeira maldição. Por isso é preciso suspender as evidências, sustentar questões junto aos pais e educadores. - Desse modo, precisamos nos perguntar: Quem patologiza as crianças e adolescentes, por vezes gravemente perturbadas? Aquelas que se manifestam pelo silêncio, pela loucura, pelo enlouquecimento, pela estranheza? Aquelas e aqueles que nos mostram as variedades de constituição subjetivas?- Pois bem: Para quê patologizamos? Uma das respostas é para a homogeinização dos discursos, para retomarmos o rumo e o saber estabelecido, de impotente para classificatório.Ás vezes patologizamos  a invenção da criança, do adolescente seu modo particular de se haver com o real.  Exemplo disso é tomar como questão clínica uma dificuldade de aprendizagem. Muitos fazem da dificuldade um “problema” e então há logo uma medicalização. Qual de nós nunca teve dificuldade de aprender? Há entre a dificuldade e o sintoma da criança uma enorme distância. Outro exemplo é do fato que se tornou recorrente  é ver crianças muito angustiadas que, atuando a angústia se inquietam se agitam, se hiperativam. No lugar de interrogar e tratar a angústia que provocou este estado de coisas, trata-se a “hiperatividade” e como algo que não concerne ao sujeito, que está à revelia dele.Medicalizar uma dificuldade é colocá-la no registro de uma patologia, decretando a maldição que recai sobre a criança e o adolescente,       Uma das conseqüências desta medicalização, do que chamarei aqui “discurso ou ato medicalizador” é que os pais ou educadores sejam levados a se confrontarem com uma insuficiência de saber sobre aquilo que é manifestação da criança, do adolescente transferindo ao saber especializado a pergunta para a qual não conseguiram construir uma resposta.  Uma vez possuidores do nome do déficit ou do transtorno, ou do problema, eles se tornam meros agentes do saber científico, na perspectiva de cuidá-la e de protegê-la.  - Não é a toa que o número de crianças e adolescentes hiperativos, com déficits de atenção e memória triplicou. Não é a toa tb que o número de autistas hoje é aterrador.  Dito isso, fica a pergunta: como cada um de nós contribui para a “patologização” da criança e do adolescente? Como cada um ou cada serviço vai fazer para tentar reverter isso?

 
 
 

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Psicanálise em ato vivo.

por Tânia Ferreira.

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